quarta-feira, 17 de julho de 2013

O BPN

Alguém pôs no Memorando de Entendimento uma data limite para a venda do BPN. O Governo ainda em funções fez da venda do BPN um ponto de honra e assinou um contrato para tal, na véspera do fim do prazo estabelecido. Era obrigatória, dizia, quando tempos depois o cancelamento da venda da TAP mostrou a margem de manobra que sempre há nestas coisas. O acordo de venda do BPN envolveu comprovados telefonemas entre o actual Primeiro-Ministro e responsáveis políticos angolanos, país de onde veio o capital para a compra. Foi uma venda com fins políticos, politicamente enquadrada. Desde que o negócio foi feito, fomos sabendo pormenores. Hoje ficámos a saber que os actuais donos do BPN estão a resolver problemas legais herdados e a mandar a conta ao Estado (ver Público). Podemos não perceber nada desses problemas e até pode acontecer que os actuais donos estejam a fazer um serviço ao Estado. Tudo pode ser. O que é verdadeiramente estranho é que o Estado seja obrigado a pagar contas sobre actos que não pode controlar, sobre cujo preço não se pode sequer pronunciar. Não é estranho? É. Mas outra coisa não seria de esperar de um contrato feito nas circunstâncias descritas, por um Governo que não olhou a meios para atingir determinados fins, quase todos contraproducentes. Pode-se passar uma esponja sobre actos destes? Ou tudo isto é normal e só o povo é que não está a ver bem a coisa?

Pedro Lains, 15/07/2013.

Nicolau Santos, "Contas do Dia" Antena 1, 18/07/2013 [.mp3]