quinta-feira, 28 de março de 2013

Ai disse, disse!

(...) O que disse José Sócrates de novo? Quatro coisas. 1) Fez o mais violento ataque em democracia a um Presidente da República, culpando-o diretamente pela crise política que levou à queda do anterior Governo e à atual solução governativa. Ninguém o tinha dito com tanta brutalidade. Ninguém tinha dito que foi ele a mão por trás do arbusto. Ninguém tinha dito que foi ele o patrono da crise política e desta solução governativa, com a qual está completamente comprometido.

2) Sublinhou que o PEC IV tinha o apoio do BCE, do Conselho Europeu e da Comissão Europeia. Não era claro para toda a gente embora a irritação de Angela Merkel com o chumbo do PEC IV constitua uma possível confirmação. Isso não quer dizer, como é evidente, que o PEC IV seria o buraco da agulha por onde escaparíamos sem ter de pedir um resgate ao FMI. Mas que havia apoio da União ao PEC IV, lá isso havia.

3) Nas parcerias público-privadas, uma das principais acusações que lhe faziam, Sócrates lembrou que das 22 PPP existentes só 8 lhe podem ser atribuídas. E que recebeu encargos de 23 mil milhões com as PPP, que reduziu para 19 mil milhões quando deixou o Governo. Os números são oficiais, estão nos Orçamentos do Estado - e contrariam o discurso que tem sido feito sobre esta matéria.

4) No que toca ao memorando, recusou que o que está em prática tenha sido o documento que assinou. Disse que já houve sete mudanças e que muitas medidas - subida do IVA para a restauração e para a energia, corte de meio subsídio de Natal logo em 2011 e confisco dos dois subsídios à função pública em 2012 - não estavam no documento original, o que é verdade. Se se podia fugir a elas ou seguir outro caminho, é outra discussão que o ex-primeiro-ministro defende, ao dizer ao Governo para parar de escavar o buraco da austeridade.

Na entrevista à RTP-1, Sócrates ajustou contas com o passado e reivindicou o direito a defender a sua versão dos acontecimentos e a ser comentador televisivo, tanto mais que, lembrou, quatro ex-líderes do PSD tem espaços desse tipo nas televisões.

Nicolau Santos
in Expresso, 28/03/2013

refrão

Eslovénia, o próximo na lista do Eurogrupo?
Os investidores internacionais estão a manifestar nervosismo em relação a este membro da zona euro. Os juros das obrigações atingiram ontem um máximo histórico acima de 6%.

in Expresso/Economia, 28/03/2013

"e nós não somos a Eslovénia
e nós não somos a Eslovénia
e nós não somos a Eslovénia
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"

next.

sexta-feira, 15 de março de 2013

"über-surrealista"

Os idiotas do "ir para além da troika" dizem agora que o plano foi "mal desenhado" e "mal concebido".

A sério, a postura deste governo começa a ir para lá dos limites do surrealismo.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Populismo doméstico

(…) as recentes declarações de Freitas do Amaral sobre Sócrates são reveladoras, ao insistirem na explicação fulanizada daquilo que já devia ser visto como um problema sistémico. Afinal, tudo parece resumir-se ao ex-PM não ter querido "cortar na despesa". 
2. Esta opinião só pode resultar de um desconhecimento fáctico - Freitas deve ignorar tanto as duras medidas do OE2011 como as previstas no PEC4 - e da incapacidade de compreender como a Zona Euro chegou à crise das dívidas soberanas: como a sua arquitetura institucional condicionou o desenvolvimento da periferia; como a UE acordou em 2008 com os Estados um aumento do investimento público para minorar o impacto da maior crise dos últimos 80 anos; como na ausência de soberania monetária, de um orçamento federal, e de um banco central com um papel de prestamista de último recurso os países com défices mais altos ficariam à mercê dos mercados; como cortar a eito em 2010 não resolvia nada (e teria impedido o país de crescer 1,9%), porque qualquer consolidação só fazia sentido numa ação concertada com o BCE e a Comissão, como contrapartida de estabilização dos spreads da dívida pública (o PEC4)
3. Freitas parece seguir a estratégia absurda que trata de modo assimétrico o período entre 2008 e a primeira metade de 2011 e aquele entre a segunda metade de 2011 e o presente. No primeiro, a crise internacional e a incoerência institucional da UE são irrelevantes; no segundo, a economia europeia e as decisões do BCE já são variáveis-chave para a recuperação portuguesa. Enquanto as elites nacionais não fizerem uma Revolução Copernicana e substituírem a explicação fulanizada pela análise sistémica de como a Europa chegou à crise de 2010 que ainda se prolonga, não contribuiremos para combater os populismos europeus que bloqueiam uma solução para a crise.
Hugo Mendes
in Económico, 07/03/2013