A fronteira da escravatura
(...) A história dos trabalhadores da Covilhã, a viverem num armazém, foi chocante por aquilo que se é capaz de fazer para ganhar uma margem no negócio. Mas foi mais chocante ainda pela imagem que deu da sociedade indiferente em que nos transformámos.
A primeira reacção às condições degradantes de vida daquelas pessoas foi contactar o Ministério da Solidariedade Social como se de um caso de caridade se tratasse. Há uns anos, não muitos, o sítio onde todos nós buscaríamos uma resposta seria no Ministério do Trabalho, mais concretamente na Inspecção Geral do Trabalho. E a Opway, a Somague e a própria PT teriam muito que explicar, não se desculpando com subempreitadas ou com empregos que vão criar.
Houve também um tempo, na escravatura e nos primeiros tempos da revolução industrial, em que o medo fez com que tudo se aguentasse. Até ao dia em que se perdeu o medo. O que é mais aterrador na actual crise é a impossibilidade de qualquer sociedade europeia aguentar a degradação de valores que as lideranças querem impor para ultrapassar os actuais problemas.
Helena Garrido
in Jornal de Negócios, 16/07/2012